2011-12-24

Mensagem de Natal

Natal Sabe aquela sensação de volatilidade, de mortalidade e mutabilidade? Da areia escorrendo por entre os dedos e você não consegue segurá-la?

É preciso amar as pessoas antes de descobrirmos que amávamos o que foi perdido.

Se perdermos, teremos o consolo de termos amado intensamente. Se não perdermos, só ganhamos! Ganhamos mais tempo para amar!

Amor é aquele sentimento gostoso de importar-se com o outro, de querer bem. Não é exclusividade das relações eróticas ou ainda das filiais/maternais. É um sentimento universal que une as pessoas que se preocupam umas com as outras (começa direcionado, tornasse múltiplo e, quem sabe um dia, intransitivo).

O mundo seria um lugar muito melhor se amássemos mais promiscuamente.

[]’s
Cacilhας, La Batalema

2011-11-23

Educação religiosa

lâmpada Agora imagine que na aula de História no colégio o assunto será Nazismo. Para ministrar a aula a escola contratar um professor neonazista. Você realmente acredita que os alunos vão aprender sobre o que foi o Nazismo e quais as consequências desse regime?

É óbvio que não! O sujeito vai fazer uma baita lavagem cerebral nos alunos para que eles acreditem que o Nazismo seja a melhor coisa do mundo.

Tudo bem, os neonazistas disfarçados forçam a barra para que se acredite que se trate de Reductio ad Hitlerum sempre que alguém usa o Nazismo como referência, então vou dar um exemplo mais brando

Imagine que na aula de Filosofia – toda escola descente deveria ter – o assunto fosse Ateísmo. Para ministrar a aula a escola contrata um ateu, mas não um ateu circunstancial: contrata um ateu materialista convicto, daqueles que fazem campanha para libertar as crianças da repressão religiosa, faz vídeos ofendendo as crenças alheias, considera-se intelectualmente superior por ser ateu e não aceita que sua crença seja chamada de crença, apesar de ser totalmente dogmático.

Você acredita mesmo que os alunos vão aprender o que é o Ateísmo?

Claro que não! Elas vão sofrer uma tremenda lavagem cerebral para tornarem-se intolerantes quanto a qualquer fé confessada!

No entanto, o contrário gera o mesmo problema: se um sobrevivente do Holocausto for dar uma aula sobre Nazismo, ele vai falar só de uma fração da realidade.

Se um pastor evangélico for dar aula sobre Ateísmo, vai falar sobre um assunto do qual ele entende lhufas e vai tentar a todo custo convencer os alunos de que o Ateísmo seja coisa do diabo, ignorando qualquer verdade.

Chegamos ao ponto onde eu queria…

Faz sentido que a disciplina Educação Religiosa seja ministrada por um religioso? É mais que óbvio que não!

Mas também seria ridículo colocar um ateu convicto para dar aulas de Educação Religiosa!

A ementa deveria ser escrita e ministrada por ateus circunstanciais ou qualquer um que não tenha uma visão engessada sobre o assunto, como por exemplo deístas ou humanistas de tendência aberta.

Assim os alunos receberiam informações variadas, tanto pró quanto contra, sobre religiões enquanto manifestações culturais e seus contextos históricos, e teriam insumo para tirar suas próprias conclusões.

Isso é educação: dar insumo racional, não mutilar o conhecimento em prol desta ou daquela opinião.

E ainda a ementa não deveria de forma alguma privilegiar um culto religioso: as principais religiões do mundo – Cristianismo, Islamismo, Judaísmo, Budismo, Taoísmo, Confucionismo e Xintoísmo – e do Brasil – Candomblé, Umbanda, Espiritismo Cardequiano e as diversas variações pentecostais do Cristianismo – deveriam ser consideradas. Afinal de contas, somos um estado laico.

Se você discorda disso, provavelmente sua fé – em sua crença religiosa ou em seu(s) filho(s) – não deve andar muito bem das perdas… ou então se justifique nos comentários para dar abertura a uma discussão saudável.

[]’s
Cacilhας, La Batalema

2011-11-20

Aniversário (ou momento de paz)

lâmpada Em mais de dez anos este foi o único aniversário meu que não comemorei com um churrasco com os amigos – desculpe aí, galera!

Passei mais da metade de meu dia em um hospital com minha esposa, que sofre de dores terríveis do pós-operatório.

Depois viemos para casa, ela dopada de analgésicos, e aproveitamos esse momento de alívio. Sei que amanhã o efeito terá passado, mas nos esquecemos disso por um instante e os problemas financeiros pareceram irrelevantes, deitamos na cama e assistimos abraçados a um programa de TV sobre nós mesmos durante esse instante infinito – e meu filho se sentou ao pé da cama, calmo como raramente um adolescente consegue ficar.

Depois dormimos o sono dos justos. Pode não ter sido o melhor dos aniversários, mas foi o melhor dos últimos dias e que os problemas de amanhã fiquem para amanhã.

[]’s
Cacilhας, La Batalema

2011-10-22

Críticas ao Esperanto

Hoje eu li na Wikipédia o artigo Criticism of Esperanto. É o perfeito exemplo de como leigos podem escrever besteira quando acham que entendem de algo.

Eu tenho diversas críticas contra o Esperanto: alfabeto contendo diacríticos; carência de uma série de correlativos, como aliu, alio, alia, alies, aliel, alie, aliam, aliom e alial; o plural de algumas palavras torna a pronúncia complicada; etc.

No entanto, todas as formas de corrigir o Esperanto geraram recursos de qualidade inferior, como Ido e Facile.

No entanto, lendo o artigo na Wikipédia, fica óbvio que as objeções comuns levantadas pelo autor foram feitas por alguém (ou alguéns) que não sabe esperanto e nem ao menos possui conhecimentos de linguística, dado grau de besteiras ditas.

Comentarei alguns tópicos…

Carência de neutralidade


De fato o vocabulário é predominantemente germânico-latino e a fonética é eslava. No entanto a gramática foi fortemente inspirada em algumas construções das línguas sínicas, não europeias.

Há ainda muitos radicais de origem no árabe, no hebráico e nas línguas mesoasiáticas.

Algo mais neutro do que Esperanto é o Volapük, que é tão neutro que se mostra alienígena, contra-intuitivo e extremamente difícil – o que foge ao foco da ferramenta.

Artificialidade


No tópico anterior o autor se queixou do excesso de eurocentrismo, já nesse ele critica a falta de eurocentrismo.

Concisão vai bem, obrigado!

O autor dessa crítica deve ser algum defensor fanático e irracional de Interlíngua, aliás outra língua artificial que respeito e pela qual sou apaixonado.

Esperanto não tem cultura


Esse sujeito realmente entendeu o objetivo do Esperanto?!

A língua esperanto nasceu para ser uma ferramenta de comunicação internacional, se a pessoa reclama que uma panela de feijão não faz torradas é porque realmente não sabe sobre o que está falando.

O cara não sabe sobre o que está falando duas vezes, porque o Esperanto é uma panela que faz torradas!

A cultura esperantista tem crescido enormente no último século e meio. Você pode ter uma leve ideia em Esperanto.Org, La Verda Krokodilo e Esperanto.com.

Dificuldade em tornar-se fluente


Você consegue falar em duzentas horas de prática. Com um ano de conversação você está fluente.

Quanto tempo você se torna fluente em inglês mesmo? Heim? Heim? Heim?

Mas devo admitir que o fanatismo e otimismo excessivo dos esperantistas acaba levando os iniciantes a criarem falsas expectativas.

O Esperanto pode sobrepujar outras línguas


Acho que o retardado que disse isso não percebe que são a língua inglesa e sua cultura que têm destruído inúmeras outras culturas.

O Esperanto é a vacina contra a globalização unilateral, pois é uma ferramenta, não uma manifestação nacional completa capaz de sobrepujar culturas alheias. Foi criado para isso e com esse fim em mente.

Diacríticos


Aqui eu concordo em gênero, número e grau.

Não gosto das letras chapelas – ĉapelaj leteroj. Para lápis, caneta e papel, não oferecem a menor dificuldade, mas ao lidar com um teclado, real ou virtual, as coisas se complicam.

Os dígrafos com H sugeridos pelo Zamenhof causam confusão, então os dígrafos com X são melhores, mesmo assim são muito pouco intuitivos.

Sexismo


A pretensa acusação de sexismo ao Esperanto é claramente uma demonstração de desconhecimento da língua.

É baseada em algumas palavras essencialmente masculinas, como viro, sinjoro e patro por exemplo, que de fato possuem gênero.

Mas por padrão as palavras em esperanto são livres de gênero, são neutras.

Assim, leono é leão no sentido geral, espécie: leão, leoa, filho, adulto, etc. Para falar-se especificamente em leoa diz-se leonino e para falar especificamente em leão (macho) diz-se virleono.

Então, qualquer sexismo que seja eventualmente identificado é resultado de momentos históricos, e menor do que o encontrado em outras alternativas.

Casos desnecessários


Aqui há uma demonstração de ignorância total sobre linguística.

O fato das línguas terem casos irregulares não indica que os casos não existam.

Por exemplo, pense na relação entre use, useful e usefully.

Na verdade o que você vê aqui são o caso nominativo/acusativo, adjetivo e adverbial.

O mesmo ocorre em português.

O que a língua esperanto tem a mais é a separação entre nominativo e acusativo, o que traz muito mais recursos poéticos e diminui a possibilidade de ambiguidade.

Concordância de número


No mesmo tópico, é feita a reclamação da concordância entre adjetivo e nome.

É uma reclamação típica dos anglófonos, sabidamente incompetentes no entendimento de línguas estrangeiras.

A concordância aqui também diminui a ambiguidade.

O Esperanto falhou


É fato: o Esperanto realmente falhou, mas não pelos motivos apresentados.

O Esperanto falhou porque as pessoas no poder – no mundo todo – se beneficiam da hieraquia criada entre as línguas naturais, onde você é considerado uma pessoa superior se souber inglês, e ainda mais respeitável se falar fluentemente. Se for um anglófono nativo, você é melhor do que os outros.

Numa posição hierárquica um pouco inferior – mas ainda superior ao português – estão o espanhol e o francês.

Essa diferença de classes em função da língua falada gera todo um mercado de destruição cultural que beneficia pessoas poderosas e os linguisticamente incompetenes, como a maioria dos anglófonos.

E argumentação de que aprender inglês seria um tempo melhor gasto é mais uma desinformação consciente e calculada para que as pessoas não se interessem pelo Esperanto, já o tempo para seu aprendizado é curto, não prejudicando o aprendizado do inglês – aliás facilita, pois acrescenta outras perspectivas que excercitam os mecanismos sinápticos necessários ao aprendizado do inglês ou qualquer outra língua.

Então você ouve pessoas dizendo «I needjy too go too the bafroom» e achando que estão arrasando… :-P

[]’s
Cacilhας, La Batalema

2011-10-17

Crônicas do malandro mané carioca, ou «volta pro colégio!»

Baal
Tem uma coisa que descobri: por volta de nove em cada dez malandros é mané.


Hoje na fila do caixa do banco demorei mais do que precisava porque:

  1. Havia duas pessoas com carência emocinal que, após terem terminado suas transações, continuaram alugando os caixas com problemas pessoais.
  2. Um mané segurou justamente o caixa com quem eu precisava falar, tentando diversas formas de engabelamento.


O mané tinha umas cinco ou seis contas a pagar.

Deu a primeira conta e perguntou quando era. A menina do caixa respondeu um valor uns centavos maior do que R$6,00. O cara deu um bolo de dinheiro dizendo que estava certo.

A menina contou e disse que faltava um tanto – acho que da primeira vez faltavam R$0,25 – e o mané, fazendo cara de parede, completou.

Depois de efetuado o pagamento, a menina do caixa perguntou se tinha mais alguma coisa, e o cara respondeu que sim, passando a segunda conta.

O mesmo procedimento foi efetuado: ela disse que era x, ele entregou um bolo de dinheiro, a menina disse que faltavam R$1,00 e tanto, ele completou.

Ela perguntou se havia mais alguma e quantas contas faltavam, e ele entregou a terceira conta.

O mesmo procedimento se repetiu então para cada uma das contas, sempre sem informar quantas faltavam e sempre dando um bolo de dinheiro que não completava o valor da conta.

P☆#☠ que pariu!

Ou o cara se acha muito malandro – que mané! – ou não sabe calcular, pagar contas, nem usar dinheiro!

Acho que deveria ser feita a exigência do cliente saber pelo menos as quatro operações matemáticas básicas e também que se o caixa deveria ter a restrição de perguntar «Mais alguma coisa?» somente uma vez… não informou tudo, que se f☃!@, volta pro fim da fila!

Tem dois ditados que adoro:
  1. Malandro é malandro, mané é mané.
  2. O malandro de verdade conhece as vantagens da honestidade: é honesto só por malandragem.


[]’s
Cacilhας, La Batalema

2011-10-15

E agora mesmo!

Dennis Ritchie No mesmo mês em que morreu o mago da distorção da realidade, também nos deixa Dennis Ritchie, criador das linguagens de programação B (baseada em APL) e C e cocriador do sistema operacional UNIX.

Se Steve Jobs esteve envolvido direta ou indiretamente com cada avanço tecnológico que não fosse voltado para resolver problemas da própria máquina, salvo raríssimas exceções, Dennis Ritchie foi o criador da linguagem de programação – e dos conceitos envolvidos – usada como base para quase todas as linguagens modernas, além de ter participado ativa e diretamente da criação do sistema operacional que serve de base para todos os sistemas atuais que funcionam.

A parte mais triste é ver todo o bafafá em cima do falecimento de Jobs, mas nada se fala de Ritchie, tão importante quanto. Ou pior… vi programadores que não sabem quem foi Dennis Ritchie!

Como eu disse, um programador que não conheça Dennis Ritchie, Dijkstra e Knuth precisa mudar de profissão ou tomar muita porrada.

[]’s
Cacilhας, La Batalema


P.S.: Artigo reproduzido no Kodumaro.

2011-10-07

E agora?

R.I.P. Steve Jobs Li gente reclamando que a reação dos internautas à morte do Jobs foi exagerada… bem, acho que essas pessoas que reclamam não percebem que o legado de Steve Jobs é muito mais do que Macintoshes, iPads e iPhones.

Quase tudo na Informática que não foi criado para resolver problemas da própria Informática veio direta ou indiretamente dele, desde tipografia, interface gráfica – resgatada de Palo Alto pelo Jobs – até as ideias que viabilizam seu Android.

Original no Facebook


Comentário do Carlos Farias:
E todas as pessoas que leram a sua mensagem, inclusive eu, só o fizeram por causa dele. Não importa o dispositivo ou sistema que usaram.


E pra quem acha que a Microsoft tenha verdadeiramente criado algo útil: Always the second.

[]’s
Cacilhας, La Batalema

2011-09-07

A ética da mídia tradicional

Baal Hoje passei o dia no HMLJ, porque minha esposa passou mal.

Não ficamos esperando ser atendidos… fomos rapidamente atendidos e minha esposa passou por uma bateria de exames para tentar identificar a causa das dores. Fomos muito bem atendidos e minha esposa teve toda atenção que precisou.

Porém…

Enquando eu esperava por minha esposa, apareceu uma equipe de reporcagem reportagem da Band.

O repórter perguntou a cada pessoa que pôde se ela estava sendo negligenciada e a resposta era quase unanimente que a pessoa tinha sido atendida sem muita espera e estava sendo dispensada a atenção médica necessária.

Dada a resposta em favor do corpo de médicos, o repórter automaticamente se desinteressava daquela pessoa, indo para a próxima, até encontrar uma mulher muito zangada com o atendimento supostamente ruim – Onde? – que falou muito mal do hospital. A essa sim o repórter deu atenção.

Depois foi chatear o pessoal da fila de visitantes, sem ver que o paciente acompanhado pela tal mulher zangada, supostamente precisando de internação, saiu andando e vendendo saúde – só queria atenção mesmo.

Essa é a ética da mídia tradicional: não há investigação de fatos, a reportagem é pré-concebida na redação e o repórter pseudo-investigativo ignora todas as evidências contra a hipótese que se deseja provar.

[]’s
Cacilhας, La Batalema

2011-09-06

Einstein e a ética da revista Time

O que Eistein realmente disse:

Eu espero que condições saudáveis logo se imponham na Alemanha, e no futuro grandes homens como Kant e Goethe não sejam simplesmente festejados de tempos em tempos, mas que os princípios que eles ensinaram prevaleçam na vida pública e na consciência geral.


O que a revista Time publicou:
Sendo um amante da liberdade, quando a revolução chegou à Alemanha eu esperei que as universidades a defendessem, sabendo que elas sempre tinham alardeado sua devoção à causa da verdade; mas não, as universidades foram imediatamente silenciadas. Então eu esperei pelos grandes editores dos jornais cujos editoriais inflamados nos dias passados tinham proclamado seu amor à liberdade; mas eles, como as universidades, foram silenciados em algumas semanas. (…) Apenas a Igreja permaneceu firmemente no caminho da campanha de Hitler para eliminar a verdade. Eu nunca antes tinha tido qualquer interesse especial pela Igreja, mas hoje sinto um grande afeto e admiração, porque apenas a Igreja teve a coragem e a persistência de defender a verdade intelectual e a liberdade moral. Assim, sou obrigado a confessar que o que eu antes desprezei hoje louvo sem reservas.


Acho que a revista Time é que tinha probleminhas em publicar a verdade

[]’s
Cacilhας, La Batalema


PS: Fonte: «Deus não é grande», de Christopher Hitchens

2011-08-27

Dennett e o amor

Quebrando o encanto Tenho estado sem ideias sobre o que escrever.

Ultimamente vejo muita gente defendendo e – pasmem! – criticando o feminismo. Parece o assunto da moda.

No entanto meu assunto preferido é religiosidade e ateísmo.

Não sou ateu, mas sou um livre pensador. Vejo que muitos ateus – não todos, claro – têm caído nos mesmos encantos dos fanáticos religiosos sem se darem conta.

Esses encantos se resumem basicamente à alienação causada pela reiteração proporcionada pela imersão cultural, uma imersão que é social e seletiva.

Ou seja, o indivíduo se cerca de outros invíduos que compartilham das mesmas ideias e as repetem uns para os outros até não haver mais margem para aceitação de críticas e contrapontos.

As crenças – ou fatos como os pseudocéticos gostam de chamar – são sempre a priori, nunca sendo revisadas – apenas falsas reconstatações forjadas.

O religioso confessa crenças nas quais não crê apenas porque é o que se espera de um religioso. Da mesma forma, humanistas, secularistas e livres pensadores se confessam ateus apenas porque é o que se espera deles, não por o serem de fato.

E repetem para si mesmos que acreditam, porque o grupo do qual fazem parte espera isso deles, senão não serão considerados brights.

Mas não é disso que quero falar hoje… quero falar do lado bom disso tudo.

Quero citar um trecho maravilho do livro Quebrando o Encando de Daniel C. Dennett:

O fato de tanta gente amar suas religiões, tanto quanto ou mais do que qualquer coisa na vida, é realmente um fato a ser ponderado. Eu estou inclinado a achar que nada poderia ter mais importância do que aquilo que as pessoas amam.

De qualquer modo, não consigo pensar em nenhum outro valor que eu pudesse pôr acima disso. Eu não gostaria de viver em um mundo sem amor.

Será que um mundo em paz, mas sem amor, significaria um mundo melhor? Não, se a paz fosse alcançada retirando-se o amor (e o ódio) do nós pelas drogas ou pela repressão.

Será que um mundo com justiça e liberdade, mas sem amor, seria um mundo melhor? Não, se isso nos transformasse, por algum modo, em cumpridores da lei sem amor, sem nenhum dos anseios ou das invejas e ódios que são a mola propulsora da injustiça e da submissão.

É difícil considerar essas hipóteses, e duvido que possamos confiar em nossas primeiras intuições a respeito delas.

Mas, pelo que se apresenta, eu suponho que quase todos nós queremos um mundo no qual o amor, a justiça, a liberdade e a paz estejam presentes, tanto quanto possível. Se tivermos de abrir mão de um deles, contudo, não seria – e não deveria ser – do amor.

Mas, é triste dizer, mesmo que seja verdade, que nada pode importar mais que o amor. Não se pode deduzir daí que não temos motivos para questionar as coisas que nós e outros amamos.

O amor é cego, como se diz, e como o amor é cego, muitas vezes leva à tragédia: há conflitos nos quais um amor é jogado contra outro amor, e alguém tem de ceder, com sofrimento garantido em qualquer resolução.


Todo o texto acima se encontra em um único parágrafo, no capítulo 9, seção I.

[]’s
Cacilhας, La Batalema

2011-08-11

O Ateísmo como artifício falacioso (assim como qualquer religião)

Quebrando o encanto Estou lendo o livro Quebrando o Encanto: A religião como fenômeno natural, de Daniel C. Dennett.

Ótimo livro, apresenta um desenvolvimento muito interessante de pensamento, salvo alguns detalhes…

Dennett é um tremendo morde-e-assopra, ao começar qualquer raciocínio, ele dá claramente a entender crer que ele e quem pensar como ele sejam superiores, Übermensch, detentores de conhecimento e sabedoria supremos e prestes a compartilhar com quem se submeter a sua superioredade, enquanto todos que pensarem diferente são ignorantes demais para terem o direito de tentar qualquer argumentação.

Mas logo depois, evolui o raciocínio defendendo o direito dos ignorantes serem ignorantes, como se isso fosse uma forma de respeito.

Decartes, o fanfarrão


Sabemos que grandes gênios também cometem erros, porém, até que se prove factualmente que uma determinada afirmação de um gênio seja besteira, ela merece ao menos o benfício da dúvida – o mais sagrado princípio do Ceticismo.

Dennett ataca René Descartes, mestre do Negativismo, chamando-o de confuso por defender o conceito de mente como res cogitans.

Segundo Descartes, a mente possui existência a parte do corpo. Já Dennett e seus correligionários acreditam inflexivelmente que a mente seja resultado dos impulsos elétricos do cérebro.

Nada nega cientificamente a ideia de que a mente seja uma entidade a parte da matéria conhecida e que o cérebro seja uma interface de duas vias do corpo com a mente, mas o pseudocético defende fortemente suas crenças.

Por outro lado, Dennett elogia e defende Skinner, que supervalorizava a previsibilidade em detrimento da liberdade, e John Locke, que considerava a mente humana uma tábua rasa, sem profundidade, ambos sem provas.

No entanto ausência de evidência é evidência de ausência para os ateus, sempre que isso for conveniente ao Ateísmo.

Se eu não vejo, não existe


Tudo aquilo que a ciência, onisciente segundo as afirmações contraditórias de Dennett, não reconhece, não existe: é ilusão, imaginação fértil se multiplicando memeticamente.

A explicação é (desfarçadamente) que se algo pode ser fraudado, então é fraude.

Portanto o exército norte-americano deve ser uma fraude, já que a religião de John Frum na ilha Efate acreditam que seus deuses, os soldados norte-americanos, voltarão um dia. Se eles podem fraudar o exército norte-americano, então deve ser uma fraude.

Porém quando você chega às argumentações sobre fraude e imaginação, já leu muita coisa desde quando o próprio Dennett citou a religião do Pacífico e não faz a conexão, não percebe a contradição.

Outros poderão dizer: mas os soldados não são deuses!

E o que são deuses? Seres superpoderosos que descem dos céus em seus barcos alados e podem matar um homem apenas apontando seu bastão mágico?

Nem tudo são flores


Mesmo assim o livro é muito interessante. Além de expor as contradições grotescas do Ateísmo, expõe muitos ridículos das grandes religiões e suas mentiras, também a ingenuidade das pequenas crenças.

É impecável sua lógica sobre como é estranho a maioria das pessoas no mundo discordarem de um religioso – qualquer que seja – se ele é o dono da verdade.

Outro argumento interessante é este:
E imagine que os fãs das histórias de Harry Potter, de J. K. Rowlings, tentassem iniciar uma nova tradição: todos os anos, no aniversário da publicação do primeiro livro de Harry Portter, as crianças receberiam presentes dados pelo menino, que entraria pela janela em sua vassoura mágica, acompanhado por sua coruja. Vamos tornar o Dia de Harry Portter um dia mundial para as crianças! Os fabricantes de brinquedos estariam todos a favor…


Ideia revoltante, não? Mas já fizeram isso… chama-se Papai Noel.

[]’s
Cacilhας, La Batalema

2011-07-26

Nerd

FACEPALM – Because expressing how dumb that was in words just doesn’t work.
Antigamente, quando eu era chamado nerd, nerd era esquisito; hoje nerd é cool.

Antigamente nerd era aquele cara meio estranho, socialmente deslocado; hoje nerd é descolado.

Antigamente nerd era como Ellie, personagem do livro Contato de Carl Sagan, que na mais tenra idade consertou um rádio valvulado, sem nunca ter visto um antes; hoje nerd compra tudo pronto: ficou velho, compra outro.

Antigamente nerd se virava com poucos recursos e fazia mágica com equipamentos que outros considerariam obsoletos; hoje nerd coleciona gadgets legais, sempre os da moda e mais modernos, não se entende com coisas antigas.

Antigamente nerd entendia de matemática, história, física ou qualquer assunto que desperte bocejos; hoje nerd repete frases de efeito e questiona teses que não entende para parecer inteligente.

Antigamente nerd se identificava com as minorias; hoje nerd diz sandices no Twitter, na tentativa de movimentar massas.

Em suma, antigamente havia os nerds e os alfa-beta e hoje continua havendo nerds e alfa-beta. A diferença é que hoje os nerds continuam em seus cantinhos isolados, mas os alfa-beta ficam por aí se autodenominando nerds, porque está na moda.

[]’s
Cacilhας, La Batalema

2011-07-04

Privilégios sociais

Baal Tenho visto muitas manifestações em defesa do orgulho hétero (ou hetero, sem acento, em referência à palavra de origem «heterossexual»), de gente 100% branca e dos direitos de homem (em oposição a mulher).

As alegações são de que estaria havendo uma inversão de valores e que a tradição estaria sendo destruída.

Pois bem, em certo ponto é verdade, mas de um jeito positivo.

Os antigos valores de direito nato e segregação das mais diversas formas – racial, sexual, religiosa… – estão sendo derrubados. Minorias sociais estão ganhando voz – principalmente na Internet – e as pessoas estão se valorizando mais.

Não chegamos lá – de fato ainda estamos muito longe disso –, porém é inegável que estamos em um ponto de mutação, the point of no return.

Os dizeres 100% negro encontrados em camisetas representam o orgulho de um povo que, mesmo após séculos sendo tratado como sub-humanos, vence como iguais que são.

Não me agradam as cotas para negros, é quase como se dissessem que os negros não têm a mesma capacidade que os brancos – o que é obviamente mentira. No entanto os séculos de injustiça contra os negros geraram uma disparidade social quase instransponível e, gostando ou não, as cotas são o que temos de melhor por ora para combater isso.

Enquanto não surgir uma alternativa melhor às cotas, devemos aplicá-las.

Os homossexuais lutam por respeito. Ninguém está pedindo para transformar seu filho em homossexual, estão pedindo que seu filho, caso se descubra heterossexual, respeite a escolha dos homossexuais e não os discrimine.

Demitir ou deixar de contratar uma pessoa profissionalmente capaz por ser homossexual não é opção ou direito, como pretende a Deputada Myriam Rios (aliás, quem foi o energúmeno que votou nela?), é discriminação explícita.

Essas manifestações contra as minorias são uma reação de grupos sociais privilegiados com medo de verem aqueles que são diferentes deles com os mesmos direitos. Quem defende privilégios quer desigualdade e discriminação.

Outro dia vi um vídeo no Facebook de um anónimo (nesse caso não se identificou porque sabe o tamanho da merda que disse) que usava desinformação e distorções para tentar colocar uma minoria social contra outra. E teve gente aparentemente inteligente concordando!

Olha gente, conselho: não é pra engolir qualquer porcaria só porque pinta um mundo que vocês, homens brancos e heterossexuais, gostariam que existisse. É preciso digerir antes de aceitar ou rejeitar.

Só para concluir o raciocínio, feminismo não é machismo ao contrário, é a luta pela igualdade dos sexos. Tem muito machista burro por aí que acha que o mundo é preto e branco, ou o homem é superior, ou a mulher. São tão deficientes intelectualmente que nem conseguem imaginar que possa haver igualdade.

O pior é que tem uma meia dúzia de pseudo-feministas que pensam igual. Obviamente são minoria no movimento. Infelizmente mulheres machistas não são minoria.

Sou aparentemente branco (tenho uma forte descendência indígena, mas é difícil detectar), homem e heterossexual. Todos fatores que me levariam a desejar privilégios vigentes para mim mesmo e defendê-los.

Mas há algo mais forte em mim que se chama retidão moral. Por isso eu simplesmente não consigo concordar com desigualdades e discriminação.

Dou graças por ter sofrido segregação, assim ainda é fácil para mim me colocar no lugar de outras pessoas.

Fui um branco (mestiço de fato, mas as aparências infelizmente imperam) em meio a mestiços e fui destratado toda minha infância como se eu tivesse culpa pelo comportamento repreensível dos brancos racistas privilegiados.

Sofria discriminação dos brancos sempre que alguém descobria que eu não vinha de uma família decente¹ – o que nunca fiz questão de esconder.

Então sei bem o que é ser segregado e poderia simplesmente me aproveitar de minha aparência para inverter a situação e ser um privilegiado, porém continuo lutando contra o racismo, a homofobia (você é homófobo se é contra direitos civis iguais para homossexuais, saiba disso), machismo e toda forma de preconceito e segregação.

E você, branco, homem, heterossexual, também pode fazer o que é certo, não é obrigado a defender as desigualdades sociais só porque seus amiguinhos de merda dizem que você é do clubinho deles.

[]’s
Cacilhας, La Batalema


¹Família decente: 100% branca e de tradição.

2011-06-04

Primeiras impressões

lâmpada Uma semana de Rio de Janeiro e já senti algumas diferenças…

Distância


Quando estava para sair de Silent Hill Petrópolis, os invejosos me disseram que eu ia me arrepender porque «Jacarepaguá é mais longe do Rio do que Petrópolis».

Acredito que, ao dizer «Rio», quiseram dizer Centro do Rio.

Bem, Petrópolis se localiza a 62,1 km do Centro – sem contar os 3,2 km que eu precisava cruzar para chegar à rodoviária, com transporte público precário.

De Jacarepaguá ao Centro são 22,1 km, pelas minhas contas quase três vezes mais perto.

Mas alguns vão alegar que a distância não importa, que os fatores importantes são conforto, trânsito e tempo… concordo!

Trânsito


De Petrópolis para o Centro, o viajante é obrigado a aturar o trânsito da Washington Luiz, da Avenida Brasil e da Perimetral, três pontos críticos. De Jacarepaguá, pego trânsito no Grajaú, na Tijuca (que é bem enjoado) e na Presidente Vargas, muito menos chato!

Não acredita? Vamos ao tempo então…

Tempo


Depois que me mudei, passei a acordar uma hora e meia mais tarde e a ter quarenta minutos a mais de tempo em casa antes de sair, para chegar no trabalho no mesmíssimo horário que chegava antes.

Saio do trabalho uma hora mais tarde e chego em casa também no mesmíssimo horário em que chegava em Petrópolis.

Portanto tenho mais tempo em casa, mais tranquilidade e mais tempo no escritório, o que significa mais qualidade de vida, ao contrário do que acreditam os bitolados petropolitanos.

Conforto


Ah! Mas o ônibus da Única Fácil é muito melhor do que viajar em um roletão lotado!

Bem… seria…

Se eu não tivesse de comprar a passagem com antecedência, pelos preços abusivos praticados pela empresa, para não ficar horas na rodoviária esperando, o que me amarra totalmente os horários e me estressa bastante.

De qualquer forma, eu não tenho andado apertado. Viajo de roletão sim, mas sentado e na janela.

Segurança


Outra merda que ouvi dos invejosos é que eu ia «trocar o canto dos pássaros por tiroteios diários».

Lembro de minha época de UFRJ que tive de enfrentar alguns tiroteios sim, mas desde que me mudei, sou acordado pelo canto de bentivis em minha janela e vendo patinhos nadando no rio. Portanto, outro medo patológico dos petropolitanos.

— Ah! Mas e os assaltos?!

Fatalidades! É ilusão achar que em Petrópolis se fica seguro, já fui assaltado duas vezes e invadiram minha casa três ou quatro vezes em Petrópolis.

Infraestrutura


A infraestrutura de Petrópolis é precária, pra ser eufêmico.

Transporte público deficiente, poucas opções de produtos à venda, preços absurdos, tudo muito distante e pouco acessível, poucas escolas (as públicas são lamentáveis) e quase nenhuma opção de trabalho – as poucas que existem pagam mal de verdade.

Também o acesso à Internet em Petrópolis é ruim e para poucos abençoados.

Aqui onde moro tenho tudo perto: escolas, farmácias, hospitais, shopping centers, padarias, supermercados, papelarias, sapatarias, chaveiros, restaurantes, acesso de qualidade à Internet, tudo que se possa precisar. E se não tiver perto, o ônibus é R$2,50 para quase qualquer outro lugar.

Algo impensável em Petrópolis. Sei que tem gente vai dizer «mas eu tenho farmárcia/padaria/outra-coisa no cormércio perto de casa aqui em Petrópolis»… acredite em mim: é bem diferente.

Povo feliz


Me falaram também que «não se deve confiar em cariocas, pois eles são malandros, só se pode confiar em petropolitanos».

Pois bem, os cariocas são um povo alegre e prestativo, sempre sorrindo e tentando ajudar, enquanto os petropolitanos são, no geral, ranzinzas e de uma má vontade colossal.

É claro que há cariocas cafajestes, assim como há petropolitanos cafajestes, mineiros, paulistas, gaúchos, nordestinos, [acrescente-aqui-seu-povo-proferido] cafajestes. Não se deve confiar em estranhos, claro, mas qualquer coisa além de precaução saudável é pura paranoia.

**


Bem, esta é minha impressão inicial de morar no Rio: os prós superam os contras de longe. Sendo que já trabalho aqui há dois anos e já morei aqui (em alojamento universitário) há uns quinze anos atrás.

Ou eu invento algo para me arrepender ou os petropolitanos invejosos vão roer as unhas até os cotovelos. =)

[]’s
Cacilhας, La Batalema

2011-05-31

Do colonialismo ao extrativismo digital

Baal Texto extraído do blog Trezentos:

Software livre não nasce em árvores: Do colonialismo ao extrativismo digital


Sei que muita gente que conheço e admiro vai ficar irritada com este artigo, mas acredito que já atingimos um nível de maturidade suficiente na comunidade de Software Livre brasileira para que possamos encarar de frente nossos próprios fantasmas. Sei também que o artigo é longo, mas acho que vale a pena a leitura. Cedo ou tarde vamos precisar fazer a reflexão aqui proposta.

Optei por escrever este artigo junto com um grupo de amigos experientes dentro da comunidade para evitar que ele seja classificado como sendo a opinião de uma única pessoa. Todos os amigos convidados já estão há bastante tempo na comunidade de software livre e todos eles já sentiram na pele os efeitos dos problemas aqui relatados. Optei por não listar seus nomes neste artigo, para que eles mesmo possam fazê-lo nos comentários.

Depois de tantos anos militando e trabalhando com Software Livre, fico impressionado em ver como as pessoas comumente usam o termo «a comunidade» como se ela fosse uma empresa ou coisa parecida. Muitas vezes vejo as pessoas falando da comunidade como se não fossem parte dela, como se não tivessem nenhuma obrigação em relação à manutenção dos projetos desenvolvidos de forma comunitária. Muita gente entende que ser usuário de redes sociais organizadas em torno de projetos de software livre seja o mesmo que ser membro de fato da comunidade do projeto em questão, além de acreditar piamente que todos naquela comunidade estão mesmo interessados em trollagens e críticas despropositadas.

Fazendo uma breve revisão do que aconteceu nos últimos anos na área de tecnologia no Brasil, vemos que nossa indústria de informática foi praticamente destruída no início dos anos 90, e passamos quase duas décadas sendo meros consumidores de tecnologia da informação, do hardware ao software. É a isso que chamo de colonialismo digital, pois tal como na época do Brasil colônia, acabamos consumindo tudo aquilo que os colonizadores nos empurravam. Vale lembrar aqui, que durante o início do século XIX, o Brasil chegou a «importar» um navio de patins para patinação no gelo da Inglaterra, uma vez que estes produtos estavam entupindo os estoques ingleses e precisavam ser desovados em algum lugar. Os historiadores contam que nesta época, as lâminas dos patins acabaram sendo utilizadas como facas e facões e assim fomos levando a vida: dando o jeitinho brasileiro para cumprir com nosso papel de colônia.

Durante quase vinte anos, fizemos a mesma coisa com produtos de tecnologia da informação e me lembro de ter presenciado algumas aberrações nesta época. De computadores que não suportavam o calor tropical brasileiro a softwares que invertiam completamente nossa lógica organizacional, vivemos décadas «dando um jeitinho» para as coisas funcionarem e não foram raros os casos em que tivemos que nos re-organizar para que pudéssemos utilizar as tecnologias «ofertadas». Quem aí nunca encontrou um banco de dados armazenado dentro de uma planilha com milhares de linhas ou não viu uma reengenharia quase irracional acontecer na marra por conta do ERP da moda que atire a primeira pedra.

Tamanha foi nossa aceitação do papel de colonizados, que no final da década de 90 não era raro encontrar universidades que ao invés de lecionar «Sistemas Operacionais», lecionavam «Windows NT», ou trocavam «Banco de Dados Relacionais» por «Oracle» ou «DB2» e por aí seguia a carruagem. Fui aluno em uma dessas (que aliás é uma universidade de renome e destaque em São Paulo). Me lembro que fui voto vencido quando fui debater este assunto com a coordenação do curso, pois para eles importava ensinar «o que o mercado cobrava». Pior do que ser voto vencido entre os coordenadores e mestres do curso, foi ter sido voto vencido entre meus colegas de turma, pois a imensa maioria deles estava tão acostumada com o fato de ter tudo mastigado nas mãos, que não se importava em não dominar de fato a tecnologia ou entender o que acontecia debaixo do capô. Estavam mais preocupados em «colocar no curriculum» o que aprenderam na faculdade. Amém!

Foi assim que formamos no Brasil centenas de milhares de profissionais de TI que não passavam de usuários avançados de ferramentas de software desenvolvidas fora do Brasil. Hoje, uma parte considerável destes profissionais são gestores de TI em diversas empresas públicas e privadas, e isso explica o principal motivo da resistência que encontramos no nosso dia a dia ao Software Livre dentro das organizações: a zona de conforto é grande e a inércia gerada por ela é muito difícil de ser quebrada.

É evidente que este modelo interessa às grandes empresas multinacionais de software, e confesso que hoje chego a achar graça das explicações dadas a eles sobre «o modelo». Sempre que questionadas publicamente sobre este tema, vemos as empresas se defendendo com o argumento de que geram milhares de empregos diretos e indiretos no Brasil, e que fazem «transferência de tecnologia» à indústria local, principalmente através de seus parceiros e de projetos junto à universidades.

O que vemos na prática é que a imensa maioria dos empregos diretos criados por estas empresas estão focados na área comercial e nas metas de curto prazo, e que os empregos «técnicos» costumam se concentrar em seus parceiros e solution providers, que evidentemente não têm acesso às informações detalhadas, e muito menos ao código fonte, dos produtos que «suportam» no mercado. A segurança e confiança por obscuridade é o que impera nesta seara.

Quando olhamos o trabalho feito por elas junto às universidades, vemos novamente que o foco é sim formar cada vez mais usuários avançados de seus produtos, e conseguir com isso firmar a dependência tecnológica desde na base da cadeia alimentar na indústria de TI. É muito fácil comprovar isso quando vemos «versões educacionais» dos softwares comercializados por estas empresas serem distribuídos com água dentro das universidades. Encerrou o curso e tem um software completo desenvolvido: ótimo… vamos lhe enviar a fatura em 3, 2, 1…

É importante lembrar que este modus operandi não é exclusividade de uma única empresa, mas é de fato a prática de mercado de todas as multinacionais de TI (das mais fechadas e perseguidas por todos até a «mais aberta» e idolatrada pela maioria).

Foi num cenário de total colonização tecnológica como o ilustrado acima que o Software Livre cresceu no Brasil, principalmente durante os últimos 10 anos. Eu atribuo este crescimento à vontade gigantesca de conhecer tecnologia de verdade que alguns profissionais de TI no Brasil tinham, mas conforme o movimento foi crescendo, tenho a impressão de que estes profissionais cada vez mais são raros de se encontrar e o que vemos de fato hoje, é a busca pela substituição pura e simples de um software proprietário por um equivalente livre (e não quero entrar aqui na discussão filosófica por trás disso).

Considero que seja fundamental termos no Brasil uma comunidade tão militante e ativa na publicidade e no suporte às soluções de Software Livre, mas infelizmente isso não é suficiente, pois deixamos de ser colonizados digitais e somos hoje extrativistas digitais.

Não exagero em dizer que hoje o Brasil tem em números absolutos a maior comunidade de usuários de Software Livre do mundo, e olha que a TI ainda não chegou a tantos lares assim no Brasil, portanto temos ainda muito a crescer. O que me deixa muito chateado é constatar que ao mesmo tempo, temos uma comunidade de desenvolvedores de Software Livre quase inexistente (eu mesmo conto nos dedos das mãos os desenvolvedores de «código fonte» em projetos de Software Livre que conheço). A dita «comunidade» é a primeira a se manifestar e apontar defeitos nos muitos projetos que «participam», mas na hora de enviar contribuições realmente significativas quase ninguém aparece.

É por isso que afirmo que vivemos hoje o extrativismo digital: encontramos uma fonte aparentemente inesgotável de recursos e estamos usando e abusando dela, sem nos preocupar com a sua manutenção. Isso pode até nos dar uma sensação de liberdade e controle do próprio nariz bem confortável, mas não nos levará a lugar algum e pior do que isso, quando a fonte se esgotar (e sim, ela pode se esgotar um dia), voltaremos à nossa vidinha de colonizados, e seremos novamente saudosistas de uma «era de ouro», tal como nossos amigos mais velhos hoje se lembram da reserva de mercado.

O que quero com este artigo é forçar uma reflexão dentro da nossa comunidade, pois é evidente que Software Livre não nasce em árvores, e existem pessoas trabalhando muito escrevendo código fonte por trás dos softwares livres que utilizamos no dia a dia.

Devo reconhecer porém, que somos muito ágeis e experientes em traduzir estes softwares para nosso idioma, mas todos devem concordar comigo que isso é o mínimo do mínimo que podemos fazer. Lembre-se de que teremos alcançado o sucesso pleno quando a tradução for problema dos outros!

Não consigo me contentar com isso e por isso peço a todos que façam uma séria reflexão: Quando foi a última vez que você contribuiu de verdade com um projeto de Software Livre?

Rodando o mundo palestrando em eventos de Software Livre, esta é a diferença primordial que vejo entre outros países e o Brasil. Na maioria dos países, a meritocracia funciona de verdade e o reconhecimento vem na base de muito, mas muito código fonte contribuído para os projetos. Como já contei a diversos amigos, em muitos países fora do Brasil, para que você possa «tomar uma cerveja» com os líderes dos projetos de Software Livre, você provavelmente já trabalhou bastante construindo e depurando código com eles.

Acho que é parte da cultura latina ser expansivo, mas não podemos deixar que nossa ânsia por fazer amigos acabe os deixando desviar tanto assim do nosso objetivo comum: Desenvolver de fato softwares livres que supram as necessidades de nosso mercado, que nos permitam dominar a tecnologia e que paguem nossas contas no final do mês.

Quando analisamos a cadeia de valor na indústria de Software Livre no Brasil hoje, vemos que diversos nós da cadeia são remunerados, mas que ainda não encontramos uma forma concreta de remunerar de verdade o principal nó: O desenvolvedor.

É muito fácil cair no discurso de que «quem implementa, treina e suporta também desenvolve», mas na prática vemos o oposto disso.

O que me consola é que este problema não é exclusividade nossa, e nos últimos meses tenho visto diversos projetos de Software Livre desenvolvidos internacionalmente passar por sérias dificuldades por conta do mesmo problema.

Voltando ao Brasil, conheço ao menos um software livre desenvolvido aqui no Brasil e que é utilizado no país todo, além de ser suportado por centenas de empresas, mas que tem como desenvolvedores ativos apenas duas pessoas, sendo que uma delas (e talvez o desenvolvedor chave), não seja de forma alguma remunerado. Não vou dizer o nome do software aqui para não ser deselegante com as pessoas envolvidas em seu ecossistema, mas garanto que pela descrição acima você já deve ter identificado alguns softwares como potenciais candidatos.

Em uma recente discussão que tive com um dos pioneiros do Open Source mundial, ele me dizia que o modelo de subscrição nunca foi de fato compreendido pelo mercado, e concordo com ele que este modelo é o mínimo que podemos ter para garantir a manutenção dos projetos e de seus desenvolvedores. É mesmo uma pena ver que muita gente afirmar sem vergonha alguma que «subscrição é licença disfarçada», e aqui incluo inúmeros colegas do movimento do software livre. Sinto lhes informar que não, não é, mas concordo que é muito fácil pensar assim quando seu contracheque chega no final de todo mês.

Indo mais a fundo no problema, fico extremamente chateado em ver a falta de consciência de inúmeros gestores de empresas públicas e privadas que economizam centenas de milhões de reais por ano em licenças de software, mas que não investem sequer um centavo no desenvolvimento e manutenção de projetos de software livre que utilizam no seu dia a dia.

Um exemplo gritante do que afirmo acima é o Libre Office (antigo OpenOffice ou BrOffice no Brasil), que possui atualmente centenas de milhares de cópias sendo utilizadas no país todo, economizando rios de dinheiro, e que têm no Brasil uma comunidade de «desenvolvedores de verdade» quase irrisória. O que me deixa muito mais chateado com isso, é que estes poucos heróis nacionais quase sempre levam uma vida de privações em prol da coletividade e tudo o que recebem de volta são tapinhas nas costas e nos últimos tempos ainda tem que aceitar calados, críticas injustas vindas de todas as partes. Não vou nem comentar aqui sobre a vida que levam os que decidem trabalhar com o desenvolvimento de padrões, mas posso afirmar que invejamos a vida dos desenvolvedores de Software Livre no Brasil.

Não quero que este seja um artigo de lamentações, e por isso eu gostaria de deixar algumas sugestões para que possamos de fato aproveitar esta oportunidade que temos nas mãos e mudar de uma vez por toda a história da TI no nosso Brasil. Muitas das sugestões vão parecer óbvias e genéricas, mas acredite, nunca foram de fato implementadas:
  • Empresas que utilizam softwares livres deveriam ter desenvolvedores trabalhando no desenvolvimento destas soluções ou se não puderem ter estes desenvolvedores, que exijam que as empresas que lhes prestam serviços de suporte e treinamento em Software Livre tenham desenvolvedores ativos nos projetos, e que comprovem suas contribuições periodicamente. Esta prestação de contas aliás deveria ser pública.
  • Universidades poderiam deixar de usar exemplos genéricos e trabalhos «inventados pelos professores» nas disciplinas de desenvolvimento de software e ter como meta a cada semestre otimizar um trecho de código fonte existente ou implementar uma melhoria ou nova funcionalidade em um software livre existente. O mesmo vale para outras disciplinas como marketing e design. Uma simples mudança da atitude como esta daria aos envolvidos uma experiência prática no mundo real com projetos concretos, ao mesmo tempo que lhes permitiria alcançar os mesmos objetivos didáticos (já imaginou onde chegaríamos com isso?).
  • Já temos diversas leis, decretos e instruções normativas no Brasil recomendando ou determinando a utilização de Software Livre e de Padrões Abertos em diversas esferas governamentais, mas infelizmente os órgãos de controle e fiscalização parecem desconhecê-las. Não consigo avaliar quem é o culpado por isso, mas sei que nós como sociedade temos o dever de cobrá-los, e talvez esteja aí a grande missão de todos os membros da comunidade que não podem contribuir de forma técnica com os projetos de Software Livre.
  • Muita gente não tem conhecimento técnico para escrever código fonte e contribuir com os projetos, mas lembre-se que um Software Livre de sucesso não vive só de código fonte e por isso mesmo sempre existe algo não relacionado a código fonte que precisa ser feito. Se envolva de verdade com a comunidade de desenvolvedores dos softwares que você usa e por favor, contribua de forma concreta com seu desenvolvimento. Ajudar de verdade é atender a necessidade do outro e não a sua própria necessidade. A diferença entre o voluntariado e o voluntarismo é gigantesca, mas muito difícil de ser compreendida.


Não acredito em contos de fadas e também não acredito que um dia uma empresa estrangeira vai decidir do dia para a noite que o Brasil é a bola da vez para concentrar aqui o seu desenvolvimento de software. Temos que conquistar isso, temos que fazê-lo do nosso jeito e temos sim potencial para reconstruir de verdade nossa indústria nacional de software e Tecnologia da Informação. O que não podemos fazer é ficar aqui sentados esperando o milagre acontecer, imaginando que estamos no caminho certo. Pequenas correções de rota podem sim nos levar a algum lugar completamente diferente e melhor do que o nosso destino atual.

Caso você ou sua empresa queira contribuir com um projeto de Software Livre e não saiba como, me coloco à disposição para ajudar e orientar.

Peço que reflitam sobre o seu papel na solução do problema aqui apresentado. Temos um elefante na sala e só não ver quem não quer.

Aguardo ansiosamente os comentários e espero que possamos abrir este debate tão necessário nos dias de hoje.

Escrito por JOMAR SILVA em 26 de Maio, 2011


[]’s
Cacilhας, La Batalema

2011-05-26

Código Florestal

Basicamente estamos propondo que as florestas se «Mudem» das nossas propriedades!

2011-05-24

Coletânea de ideias

lâmpada Ultimamente tenho estado bastante ocupado com mudança e preocupações relacionadas, por isso não tenho escrito muito para o blog.

Como hoje estou de molho por causa de uma gripe forte, resolvi aproveitar parte do tempo na cama para escrever este artigo bem genérico sobre coisas que tenho pensado e não tenho tipo tempo ou cabeça para publicar.

Por uma língua melhor


Também fiquei revoltado com os textos extraídos do livro Por uma vida melhor, de Heloisa Ramos, principalmente a parte que ensina como português correto dizer «os livro».

É claro que há toda uma bagagem histórica por trás da supressão do plural, a mesma por trás da supressão do R do final dos verbos – como quando dizemos «andá» em vez de «andar» –, porém é preciso bom senso para lidar com isso.

No entanto comecei a ver muita gente defendo o livro, pessoas inteligentes. A princípio imaginei que se tratasse apenas de síndrome da teoria da conspiração, mas depois de ler alguns textos e pensar muito sobre o assunto, percebi que nenhuma das matérias criticando a adoção do livro contextualiza os textos destacados.

Ou, em outros termos, as críticas descontextualizam seu objeto.

Resolvi então não assumir qualquer opinião sobre o assunto antes de ler o livro didático e sugiro que todos façam o mesmo.

Não tenho a quem processar


Veio a meus ouvidos que no ISTCC-P alguns professores voltaram a ensinar os alunos a nunca usar Software Livre, sob a alegação de não terem a quem processar em caso de falha.

Esta visão só pode se originar de dois tipos de pessoa: ¹acadêmicos sem qualquer visão profissional e ²profissionais mafiosos que ganham dinheiro divulgando desinformação.

Como prefiro acreditar primeiro na boa fé das pessoas, presumo que os professores que dizem isso são acadêmicos alienados.

Por que digo isso? Vamos lá…

Você já leu alguma daquelas licenças que vêm com os programas e você é obrigado a concordar?

Pois é, a grande maioria delas – pelo menos todas as que já li – excluem a responsabilidade do fabricante/proprietário sobre qualquer dano que você venha a sofrer. Isso mesmo.

Como as pessoas acreditam que têm a quem processar por padrão, não se preocupam em incluir cláusulas de responsabilidade quando contratam soluções baseadas em software proprietário.

Já empresas que vendem soluções baseadas em software de código aberto geralmente incluem cláusulas de responsabilidade para tranquilizar seus clientes. Sei disso por experiência própria.

Mas o segundo motivo pelo qual a alegação da falta de a quem processar seja falaciosa é ainda mais divertido

Imagine que sua vida dependa direta ou indiretamente de um software, como elevadores, aviões e equipamentos hospitalares. Ter a quem processar em caso de falha é extremamente irrelevante porque morto você não processa ninguém.

Então é preferível ter um software com baixo risco a ter a quem processar. Software de código aberto está exposto para a crítica do mundo todo, o que traz à luz falhas que não seriam detectadas por uma pequena equipe de visão viciada, para que possam ser rapidamente corrigidas; enquando que software proprietário tem seu código restrito aos interessados em que você o compre, independente de se vai funcionar bem ou não, portanto falhas não evidentes – inclusive conhecidas – serão omitidas, não corrigidas, principalmente se o dinheiro gasto com processos for menor do que o investimento necessário para corrigi-las.

Música


Pretendo escrever um artigo sobre Riverside, a banda de Mariusz Duda, autor do trabalho Lunatic Soul.

Mas ainda preciso escolher qual clip colocar no artigo. Se fosse sobre Lunatic Soul, certamente seria Summerland, minha preferida desse trabalho, mas quanto a Riverside preciso pensar bem ainda.

**


É isso aí! Deixo aqui então esta coletânea de ideias.

[]’s
Cacilhας, La Batalema

2011-05-11

Petrópolis, cidade perfeita

Petropolitanos que trabalham no Rio tentaram me dissuadir da ideia de me mudar para o Rio, alegando entre outras sandices, que cariocas não são confiáveis (só os petropolitanos são), que eu nunca fui assaltado em Petrópolis e que minha casa nunca foi arrombada, que são mentiras que eu conto para denegrir a imagem perfeita de Silent Hill Petrópolis – quem manda eu acreditar nesses mentirosos, né?

E olha que nem contei que colocaram fogo na casa de minha avó, só de raiva porque não tinha o que roubar…

Por não conseguir expressar minha opinião sobre o assunto em palavras, vai uma imagem que diz tudo:
FACEPALM – Because expressing how dumb that was in words just doesn’t work.

[]’s
Cacilhας, La Batalema

P.S.: Bônus de coisas que não acontecem em Silent Hill Petrópolis: Vendedor de carros é executado a tiros no São Sebastião. Homem ficou ferido

2011-04-29

Emoções: amor e correlatos

lâmpada Andei a pensar em escrever um artigo sobre esse assunto já por algum tempo, mas hoje uma brincadeira de um amigo meu no Facebook me levou às vias de fato.

Como diz outro amigo meu, sou uma força da natureza: altamente passional em tudo, o que me faz ter muita intimidade com as emoções das quais pretendo tratar.

Por outro lado, sou analítico e muito autocrítico, o que me permite entender tais sentimentos em um nível que poucos conseguem, pelo menos os que me afetam.

Expostas minhas credenciais, gostaria de começar dizendo que há pelo menos três emoções diferentes que as pessoas têm dificuldade em distinguir, o que leva a toda confusão sobre o assunto e sobre como tratar cada uma adequadamente dentro de si.

Tratarei de cada uma em particular, mas já adianto que nenhuma das três é capaz de manter uma relação entre duas pessoas por muito tempo.

Há ainda uma quarta emoção, sobre a qual não entrarei em detalhes, pois merece um livro inteiro e mesmo assim só a experiência poderia esclarecê-la.

Quero também deixar claro que esses sentimentos não são excludentes e podem conviver perfeitamente em uma relação.

Amor


A primeira das três emoções é aquela que realmente merece a alcunha de amor. Acredito que seja o que os helénicos chamavam de Φιλία ou Στοργή.

Das três emoções é a única que pode ser alimentada ao exagero sem prejuízos para nenhuma das partes.

Mas o que é esse tal de amor?

Para defini-lo, precisamos encontrar relações onde ele ocorre e compará-las em busca de uma interseção.

O amor de um pai ou uma mãe pelo filho; do filho pelos pais; de um irmão por outro; o amor entre amantes em um casal; entre dois grandes amigos; todas essas emoções são na verdade a mesma.

Mas como o amor entre marido e mulher poderia ser o mesmo amor filial?

Como eu disse, para encontrar o amor verdadeiro precisamos buscar o que há em comum entre essas relações.

Amor não é querer, é bem querer; não é controle, é liberdade; não é possuir, é permitir.

Amor é a necessidade de zelar sem o desejo de envolver. Querer ver o amado feliz, mesmo que longe.

Difícil esse sentimento, não?

Paixão


Essa é uma companheira constante minha e precisa ser domada a cada dia. Posso falar dela com propriedade, pois a paixão é a definição de minha vida.

Paixão é uma necessidade de estar perto, não de possuir, mas de compartilhar.

Paixão não precisa ser por outra pessoa, você pode se apaixonar pelo trabalho que executa, pela Música, pela Matemática, por uma história, até mesmo por objetos, mas essencialmente é a mesma emoção que sentimos quando estamos apaixonados por outra pessoa.

E também não tem necessariamente conotação sexual. Um homem pode estar apaixonado por outro homem ou por uma mulher, uma mulher pode se apaixonar por outra mulher ou por um homem, tudo sem o menor desejo sexual.

Paixão é querer estar junto. Não aquele simples prazer em estar junto, mas aquela vontade gostosa que traz paz quando ocorre a comunhão.

Eu por exemplo constantemente me apaixono por minha esposa, que também é apaixonada por mim; sou apaixonado por meus amigos e amigas; e fico muito feliz quando alguém se apaixona por mim ou pela mesma coisa que eu, querendo minha companhia sempre que possível. Sou muito passional.

Mas a paixão é triplamente perigosa…

A paixão é perigosa em primeiro lugar porque é passageira, sempre. Pode acreditar em mim: se você está apaixonado(a) por alguém, vai passar.

Mesmo no caso de uma pessoa passional como eu, a paixão vai e vem em ondas, não é constante.

Em segundo lugar, a paixão é perigosa porque pode ser confundida com amor! Quando isso acontece, as partes se mascaram e se iludem, e, quando a paixão se esgota, as máscaras caem e vêm a frustração, a mágoa e às vezes até o ódio.

Em terceiro, a paixão é perigosa porque pode sair de controle.

Se a paixão cresce muito, pode começar a dominar o apaixonado e se tornar uma patologia prejudicial tanto para o apaixonado quanto para o objeto da paixão.

Desejo


Este é o mais perigoso, porém o mais controlável dos três. Creio que seja o Ἔρως dos helénicos.

O desejo é querer possuir o desejado para si, quase sempre com implicações sexuais, mesmo que jamais sejam levadas a cabo.

Se mantido sob controle – o que não é difícil para qualquer pessoa civilizada –, o desejo é um bem vindo tempero em uma relação e necessário na relação entre marido e mulher. É a chamada química entre os amantes.

O problema é que apenas um pouco maior, e o desejo passa a controlar aquele que deseja.

Então ele se torna o mais perigoso de todos, pois o desejo, ao contrário dos dois sentimentos anteriores, não se preocupa com o desejado, apenas com satisfação própria.

Isso pode levar a situações muito perigosas, de acessos irracíveis de ciúmes até a abuso sexual – o famoso não que quer dizer sim, saca? Aprendam rapazes: não significa NÃO!

O mais esdrúxulo sobre o desejo em demasia é que muitas vezes o praticante de atos escusos é uma pessoa de bem! Apenas deixou o desejo passar dos limites e controlá-lo, o que não o exime do responsabilidade, já que o desejo é facilmente controlável em seus primeiros estágios.

O pior dos casos é a paixão associada ao desejo, que juntos são confundidos com amor e ganham proporções desastrosas.

Cumplicidade


O leitor se lembra que eu disse lá no começo que nenhum desses sentimentos é capaz de manter uma relação? Pois é, aprendi isso a duras penas…

Uma relação não se mantém sem amor, mas o amor não sustenta uma relação – mesmo porque amar é querer bem, mesmo que o amado esteja em outra relação.

Uma relação tem mais sabor com paixão, mas sobrevive sem ela, mesmo porque paixão dá e passa (é tão bom quando volta em ondas…).

Uma relação entre cônjunges por definição não existe sem desejo, mas uma relação sustentada por desejo em pouco tempo se degenera em pura obsessão, o que é extremamente prejudicial para ambos.

Então o que sustenta uma relação? A cumplicidade.

Não é bem um sentimento, mas a forma como as partes se relacionam. Quando marido e mulher, que é o caso mais crítico, são cúmplices, aí a relação se sustenta.

Casamentos sem cumplicidade viram rotina e costume – «eu me acostumei a ela(e)». É a pior farsa que duas pessoas podem viver e em algum momento elas certamente passarão a se odiar. Se você e sua(eu) namorada(o) ou noiva(o) não têm uma relação de cumplicidade, pule fora agora enquanto é tempo!

Ágape


Eu também disse lá trás que há uma quarta emoção, mas que não entraria em detalhes sobre ela. É Ἀγάπη.

Por curiosidade, apenas a cito e digo que se parece muito com a devoção religiosa, se a devoção religiosa não for apenas uma de suas facetas.

**
Desculpe-me qualquer coisa, são apenas alguns demónios exorcizados, que apresento aqui domados.

[]’s
Cacilhας, La Batalema

2011-04-22

Perfil bash no OS X

GNU Um amigo meu sugeriu que eu escrevesse um artigo sobre como organizo meu perfil bash no Mac OS X. Eis aqui!

No OS X, assim como em qualquer sistema Unix-like, o bash lê o perfil basicamente de dois arquivos: /etc/profile e ~/.bash_profile (em muitos sistemas o /etc/profile carrega todos os scripts executáveis em /etc/profile.d/).

Só que deixar todas as configurações em um único arquivo pode torná-lo confuso. Para resolver esse problema, fiz o seguinte: criei um diretório ~/bin/profile e coloquei um código no ~/.bash_profile que carrega todos os scripts executáveis desse diretório.

O trecho de código é o seguinte:

for script in $HOME/bin/profile/*.sh
do
if [[ -x "$script" ]]
then
. "$script"
fi
done


Exemplo


Como exemplo, um de meus arquivos é o que ajusta as cores do terminal.

No OS X, o LSCOLORS é uma string de onze pares de caracteres. O primeiro carácter do par é a cor de frente (foreground) e o segundo a cor de fundo (background).

Os onze pares são em ordem:
  1. cores para diretório
  2. cores para ligação simbólica (symlink)
  3. cores para soquete
  4. cores para pipe
  5. cores para arquivo executável
  6. cores para arquivo especial de bloco
  7. cores para arquivo especial de carácter
  8. cores para executável com o bit setuid ajustado
  9. cores para executável com o bit setgid ajustado
  10. diretório gravável por outros, com stick bit ajustado
  11. diretório gravável por outros, sem stick bit ajustado


Os caracteres usados para ajustas as cores de cada parte (frente e fundo) de cada par são:
  • x o valor pré-definido
  • a preto
  • b vermelho
  • c verde
  • d marrom
  • e azul
  • f magenta
  • g ciano
  • h cinza


As mesmas letras em maiúsculas significam negrito.

Por exemplo, meu LSCOLORS é assim:
LSCOLORS=ExGxFxFxCxegedabagacad


Traduzindo:
  • Diretório Ex: frente azul em negrito, fundo padrão
  • Ligação simbólica Gx: frente ciano em negrito, fundo padrão
  • Soquete Fx: frente magenta em negrito, fundo padrão
  • Pipe Fx: idem ao anterior
  • Executável Cx: frente verde em negrito, fundo padrão
  • Especial de bloco eg: frente azul, fundo ciano
  • Especial de carácter ed frente azul, fundo marrom
  • Executável com setuid ab: frente preta, fundo vermelho
  • Executável com setgid ag: frente preta, fundo ciano
  • Diretório gravável por outros com stick bit ac: frente preta, fundo verde
  • Diretório gravável por outros sem stick bit ad: frente preta, fundo marrom


Mas é preciso ajustar também a variável de ambiente CLICOLOR e exportar tudo.

No final fica assim:
#-----------#
# LS colors #
#-----------#

LSCOLORS=ExGxFxFxCxegedabagacad
CLICOLOR=1
export CLICOLOR LSCOLORS

alias l='ls -lh -G'


Fazendo funcionar


Para fazer funcionar, o arquivo precisa ser executável. Meu arquivo de cores chama ~/bin/profile/colors.sh, portanto:
bash$ chmod +x ~/bin/profile/colors.sh


Outro exemplo


Outro exemplo é o arquivo que torna o Vim o editor padrão:
#-----#
# Vim #
#-----#

if [[ -z "$DISPLAY" ]]
then
EDITOR='/Applications/MacVim.app/Contents/MacOS/Vim'
else
EDITOR='/Applications/MacVim.app/Contents/MacOS/Vim -g --nofork'
fi
export EDITOR


Veja que a graça da brincadeira é a modularização, que deixa configurações de coisas diferentes em arquivos diferentes e configurações da mesma coisa encapsuladas.

**
Fica então mais esta dica!

[]’s
Cacilhας, La Batalema

2011-04-16

Juventude velha

Baal Geralmente uso a palavra velho e seus relativos com sentido diferente de idoso.

Idoso é quem tem idade; velho é quem perdeu a capacidade de aprender.

Digo com segurança que não há ninguém mais velho que adolescentes e jovens.

Contraditório, não? Já explico…

Uma adolescente me perguntou certa vez por que ela precisava praticar escala cromática temperada no violão.

Eu respondi que era pra fortalecer músculos e tendões, ganhar agilidade e fazer com que os movimentos se tornem automáticos, mas ela não se deu por satisfeita, não ouviu nada do que eu disse, continuou reclamando que não ia praticar o que não faz sentido.

O motivo dado não era o que ela queria.

E não se limita aos adolescentes…

Na época em que eu ainda dava aulas de violão, tive um aluno de uns vinte e pouquinhos anos que estava aprendendo escala.

Comecei a ensinar a escala diatónica e ele disse que não queria aprendê-la, queria aprender as escalas Ionian, Dorian, Phrygian, Lydian, Mixolydian, Aeolian e Locrian.

Contei que essa história de sete escalas é enrolação de professor que quer ganhar dinheiro fácil, que são apenas sete modos da escala diatónica: lídio, jónio, mixolídio, dórico, eólio, frígio e lócrio. Expliquei que eu ia ensinar pra ele as escalas pentatónica e diatónica, e como modular, e só com isso ele já ia saber fazer todas as falsas escalas ensinadas por meses por outros professores.

Resultado? Ele foi embora, porque não era a resposta que ele queria. Ele queria aprender a escala Ionian, a escala Dorian

Pensamento velho demais para entender que estava querendo ser enganado.

Esses são apenas dois exemplos musicais de como os jovens podem ser velhos.

[]’s
Cacilhας, La Batalema

Música ou pura tecnicice?

Clave de Sol Outro dia eu conversava com um amigo meu, que me apresentava as bandas que ele gosta.

No meio havia bandas de metal sinfónico, o que me levou a pensar sobre a adulação da técnica…

Os atuais palestrantes profissionais de Agile e os metaleiros sinfónicos têm em comum a priorização da técnica.

A boa música é ou deveria ser o objetivo do musicista e a técnica o meio para alcançá-la.

O meio deve ser a forma de se atingir o objetivo. Se o objetivo pode ser atingido sem meios, é melhor deixar o meio de lado; se o meio atrapalha a busca pelo objetivo, é melhor buscar outros meios.

A técnica musical é um meio que facilita a busca pela boa música. Porém um meio longo e demorado…

Leva-se anos até que a técnica esteja aprimorada o suficiente para que a boa música comece a surgir.

Para reduzir esse tempo, esses instrumentistas tomam um atalho: substituem o objetivo pelo meio em si, tomam o meio por fim.

Ou seja, a técnica se torna mais importante que a música.

Nesse ínterim, temos Steve Vai, Rhapsody of Fire, Yngwie Malmsteen e tantos outros pseudo-musicistas que se dedicaram tanto à técnica a ponto de se esquecerem do objetivo principal.

Ah! Mas muita gente vai dizer que é questão de gosto musical!

Não estou falando de gosto. Há grandes músicos em diversos estilos, da música clássica ao hip hop, da música caipira ao rock e o metal. Não é este o ponto.

O ponto é sobre os caras que não conseguem atingir o objetivo musical e, para compensar, se tornam grandes técnicos instrumentistas de ego inflado. Ou me diga se você vê alguma musicalidade nessa barulheira aqui, que mais é um exercício de escala do que um solo de guitarra…

Não passa de exibição megalomaníaca.

O pior é que há muita gente que se deixa iludir por esse tipo de palhaçada, alimentando esse mercado que destrói a cultura musical.

Este foi só mais um desabafo musical. A intenção é levar o leitor a pensar sobre o assunto, concordando ou não comigo.

[]’s
Cacilhας, La Batalema

2011-04-11

A inspiração me escapa…

Clave de Sol Frustrado é a palavra…

O formato quadrangular dos compassos 4/4 e 2/4 me frustra. Prefiro a forma circular dos compassos 3/4, 6/8 e 12/8, e a beleza irregular das amálgamas de 5 e 7 tempos. Mas eu quero mais…

Sonho com a complexidade dos compassos indianos de 45 e 60 tempos.

A mesmice da escala diatónica me entedia… principalmente os modos jónio e mixolídio, e sua variação bebop. Restam as escalas exóticas.

A música tonal não me satisfaz, porém as únicas emoções que consigo expressar com escalas modais são euforia e melancolia.

A inspiração é areia que me escapa por entre os dedos…

[]’s
Cacilhας, La Batalema

2011-04-03

Mais Porcupine Tree

Porcupine Tree Outro dia falei da banda Porcupine Tree. Agora vou falar um pouquinho da história deles, que pode ser encontrada na Wikipédia em inglês (a versão em português está meio fraca).

As raízes para o nascimento da banda surgiram em 1987 quando Steven John Wilson e Malcolm Stocks resoveram fazer uma brincadeira e criar um boato de uma banda lendária de rock psicodélico da década de 1970 chamada Porcupine Tree.

Eles se basearam em bandas reais, como Pink Floyd, e criaram uma história complexa, com discografia, participações em encontros famosos de bandas e biografia dos membros, incluindo passagens pela prisão.

Enquanto Malcolm Stocks gerava as ideias, Wilson, que havia montado seu próprio estúdio, fornecia o material necessário para endossar o boato, compondo, tocando e gravando as músicas da suposta banda.

No entanto Steve Wilson estava envolvido com sua própria banda, No-Man, e Porcupine Tree não era mais do que uma brincadeira.

Por volta de 1989, Wilson começou a considerar viáveis algumas composições feitas para a brincadeira, gravou um cassete de oitenta minutos chamado Tarquin’s Seaweed Farm sob o nome de Porcupine Tree e enviou cópias para algumas pessoas, incluindo Nick Saloman, que sugeriu enviar uma cópia para Richard Allen, escritor da revista Encyclopædia Psychedelica.

Allen reenviou a cópia para diversas revistas e acabou se tornando o agente da banda – na época mais um projeto solo de Steven Wilson do que uma banda –, que assinou contrato com o selo Delerium.

Em 1993 a banda assumiu sua primeira formação: Steve Wilson na guitarra e nos vocais, Colin Edwin no contrabaixo, Richard Barbieri (da No-Man) nos teclados e Chris Maitland (também da No-Man) na bateria.

A fase de 1991 a 1997, sob o selo Delerium, constituiu a fase mais psicodélica da banda, seguindo as bases propostas na brincadeira da banda fictícia¹ da década de 1970. Depois a banda entrou em uma fase de transição – ainda bem psicodélica – que durou até 2002.

Em 2002, com a entrada do baterista Gavin Harrison, ex-King Crimson, e do guitarrista e vocalista John Wesley Dearth, III, a banda mudou e assumiu uma sonoridade metal progressivo.

A confirmação da postura mais pesada do Porcupine Tree se deu com a apresentação Arriving Somewhere… em 2006.

No artigo anterior, divulguei o vídeo da música Blackest Eyes. Desta vez vou deixá-los com Even Less:



[]’s
Cacilhας, La Batalema

[update 2011-04-04]
¹fictícia: ontem eu não lembrava essa palavra de jeito nenhum, lembrei hoje cochilando no ônibus. Vai entender…
[/update]

2011-03-22

T.I. é muito fácil, basta apertar uns botões…

Baal Hoje pela manhã, indo de ônibus para a rodoviária ainda meio sonolento, ouvi uma conversa no banco logo atrás do meu que me chamou a atenção…

Um rapaz, aparentemente um pouco mais novo que eu – portanto já um burro velho –, disse para o outro do lado:

— Profissional de T.I. é tudo vagabundo! Passa o dia inteiro jogando paciência, vendo vídeo no YouTube e navegando no Orkut. Enrola o dia inteiro pra fazer tudo correndo no fim do dia, porque o trabalho de T.I. é muito fácil, é só apertar uns botões e está tudo feito.

Isso me despertou. Continuando a conversa, continuaram as bizarrices… o sujeito ainda disse:

— Eu sou programador. Trabalho fazendo site. É impossível fazer um site que funcione no IE e no Firefox, você tem de escolher um ou outro e trabalhar só com ele.

Sem comentários…

[]’s
Cacilhας, La Batalema

2011-03-05

Águas do Imperador engando você!

Segundo matéria da Tribuna de Petrópolis, o sanitarista Mario Bandara revela que o tratamento de esgoto da empresa Águas do Imperador é uma farsa, poluindo os rios de Petrópolis em benefício dos lucros da empresa:

Para sanitarista, estações de tratamento de esgoto da cidade são ineficientes



Um estudo feito pelo engenheiro sanitarista Mario Bandara, sobre o sistema utilizado nas estações de tratamento de esgoto da Águas do Imperador, foi apresentado na última quinta-feira, durante reunião do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Condema). A pesquisa foi encomendada pelo Instituto Civis e pelo Ama-Centro Histórico, após surgirem questionamentos sobre a nova ETE que será instalada no Bingen, em frente ao Hospital Santa Teresa. «Tínhamos muitas dúvidas sobre a construção desta nova estação de tratamento. Já tivemos problemas com a ETE instalada na Rua Washington Luiz, principalmente em relação ao mau cheiro», disse a presidente da Ama-Centro Histórico, Miriam Bourne.

De acordo com o estudo, que durou cerca de quatro meses, o processo utilizado pela concessionária é falho e ineficaz. «Encontrei falhas e pude concluir que o sistema não tem eficácia e propicia a contaminação ambiental», informou Bandara. O engenheiro sanitarista explica que o sistema usado pela Águas do Imperador é chamado de Unitário, o que, segundo ele, é ultrapassado e proibido. «Nesse processo, o esgoto e a água pluvial passam pela mesma tubulação. Quando há um aumento no volume da água da chuva, ela é jogada para o rio, através de um extravasor, mas tanto a água pluvial quando o esgoto são despejados juntos no rio, uma vez que ambos passam pela mesma tubulação. Esse sistema, adotado pela Águas do Imperador, permite isso, por isso é considerado ultrapassado», explicou.

Para o sanitarista, o sistema que deveria ser implantado nas ETE’s é o chamado de Separador Absoluto, que consiste de duas tubulações onde a rede sanitária e a rede pluvial são separadas. De acordo com Bandara, este processo é obrigatório desde 1912. «Nossos rios são contaminados. Isso é um fato que não há como negar», enfatizou. Ainda de acordo com o sanitarista, o sistema pode ser mudado, mesmo com as estações já em funcionamento. Para a realização do estudo, Bandara utilizou dados fornecidos no site da Águas do Imperador e observação em campo. Ele ressalta, que chegou a pedir mais dados e informações à concessionária de águas, mas não foi atendido. Ele também reconhece que com a utilização de mais recursos, o estudo teria uma precisão maior.

Para o presidente do Instituto Civis, Mauro Corrêa, é preciso abrir uma discussão sobre o assunto e levar ao conhecimento da sociedade civil e autoridades. «Existem outras vertentes e explicações, além das disponibilizadas pelos técnicos da Águas do Imperador, quando decidiram pela instalação da ETE próximo a um hospital. É preciso falar mais sobre o tema, discutir e analisar», disse. De acordo com Miriam, uma cópia do estudo foi entregue ao Ministério Público Federal, para que seja analisada. Na próxima sexta-feira, dia 18, a pesquisa será apresentada aos estudantes de engenharia da Universidade Católica de Petrópolis. «Queremos realizar também uma apresentação na Câmara Municipal. Já estou em contato com os vereadores. Vamos tornar esta pesquisa pública e questionar a Águas do Imperador», enfatizou Miriam Bourne.

Outro ponto também abordado pelo sanitarista foi o local escolhido pela concessionária para instalação da nova ETE. Ele afirma desconhecer, em qualquer outro lugar do mundo, a implantação de estações de tratamento de esgoto próximo a escolas, postos de saúde ou hospitais. «Mesmo que fosse um sistema eficaz, sem falhas operacionais, não é recomendável, é um contra-senso», ressaltou. Ele afirma que podem ocorrer contaminações através do ar, já que nos locais onde as estações são instaladas o mau cheiro é forte. «Colônias de bactérias também existem no ar. É preciso levar isso em consideração», informou.

Em nota, a assessoria da imprensa da Águas do Imperador informou que «todo esses questionamentos já foram devidamente respondidos em reunião com o Condema, da qual participou o engenheiro Mário Bandara. Na ocasião, foi demonstrado por que o MBBR – Moving Bed Biological Reactor – tecnologia de membrana é o mais moderno e eficiente no tratamento de efluentes. Desta reunião participou o arquiteto do Hospital Santa Teresa, Marcos Teixeira, responsável também pelo projeto da ETE Piabanha. Na ocasião, além do projeto da ETE Piabanha, foram apresentados para o Condema todas as licenças para construção da estação de tratamento de esgotos. Desde sempre houve a preocupação de realizar a obra em consonância com as exigências impostas pela proximidade de um hospital. Naturalmente que se a obra oferecesse algum risco para os pacientes, não seria licenciada por todos os órgãos competentes». Ainda de acordo com a assessoria, a ETE Piabanha vai tratar 11 milhões de litros de esgotos por dia, beneficiando 30 mil moradores da Mosela e do Bingen, e faz parte do programa de Despoluição dos Rios de Petrópolis, iniciado em 2000. Assim como as demais estações de tratamento de esgotos – ETE Palatinato e Quitandinha –, a estação que vai tratar a bacia do Rio Piabanha será inteiramente biológica, e, além de tratamento de membranas, o MBBR, seu sistema de aeração, também o mais sofisticado que existe (WTF?), pois consome 30% menos de energia e aumenta a eficiência do tratamento.


JANAINA DO CARMO
Redação Tribuna


Em suma: a Águas do Imperador usa uma tecnologia de tratamento de esgosto ineficiente e ultrapassada há quase um século, e ainda tem coragem de chamar isso de mais moderno e eficiente, apenas porque terá 30% menos de gastos, potencializando seus lucros.

E mais, fazendo o mesmo questionamento que a acessoria da empresa, como os órgãos competentes licenciaram uma obra que usa uma tecnologia proibida há quase um século? É preciso fazer um inquérito de corrupção para averiguar.

Sorria! Você está sendo enganado!

[update 2011-03-10]
Além de relembrar de minha reclamação do trabalho escondido, a bloquear a visão do cruzamento, gostaria de acrescentar duas fotos da Águas do Imperador bloqueando a calçada sem sinalização:


Quer dizer… só tem sinalização quando o jornal vai lá fazer matéria?!
[/update]


[]’s
Cacilhας, La Batalema